Usa-se no futebol, na descrição dos debates políticos, em todo o lado em
que acontece o que devia acontecer. Dioníso (de Helicarnasso) discordava. Ninguém conseguiu definir a arte da oportunidade, nem mesmo Górgias de Leontinos, que terá sido o primeiro a escrever sobre o assunto. Traduzindo em passe vite a ideia de Dionísio: dependendo a arte do kairos
de uma situação determinada, julgada pelos olhos de quem a vê e
ocorrendo num instante preciso, que, por sua vez, é o produto de
momentos anteriores e coevos, é impossível definir a arte.
A altura certa para dizer a verdade, o momento benigno para
abandonarmos, o segundo preciso em que desistimos. Arrisco contrariar
Dioníso ( espero que no instante certo): domina a arte da oportunidade
quem duvida do futuro.
Vem isto a propósito de outra ideia feita: a acusação de oportunismo aos políticos. António Costa recebe bastas vezes a chibatada. Agora vejamos : um político que não domina a arte da oportunidade é um Raul de Tomás, ou seja, gasta muito, promete tudo e nunca está no sítio certo.
Temos na nossas representações psico-linguísticas outros equívocos: fulana é uma manipuladora. Quando em terapia alguém se queixa de ser assim apodada costumo sossegar a irritação. Explico que é um elogio, que saber manipular, portanto, dispor as coisas, templar, escolher o instante, é uma qualidade preciosa. Os tolos fazem ao calhas.
Costa é oportunista e manipulador? Claro, não é tolo. Bertoldos são os que não aprendem a contrariá-lo, os deslumbrados que não duvidam do futuro.
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