Tuesday, September 17, 2019

A arte da oportunidade: A. Costa e muito bem.

Usa-se no futebol, na descrição dos debates políticos, em todo o lado em que acontece o que devia acontecer. Dioníso (de Helicarnasso) discordava. Ninguém conseguiu  definir a arte da oportunidade, nem mesmo Górgias de Leontinos, que terá sido o primeiro a escrever sobre o assunto. Traduzindo em passe vite a ideia de Dionísio:  dependendo a arte do kairos  de uma situação determinada, julgada pelos olhos de quem a vê e ocorrendo num instante preciso, que, por sua vez,  é o produto de momentos anteriores e  coevos, é impossível definir a arte.
A altura certa para dizer a verdade, o momento  benigno para abandonarmos, o segundo preciso em que desistimos. Arrisco contrariar Dioníso ( espero que no instante certo): domina a arte da oportunidade quem duvida do futuro.
Vem isto a propósito de outra ideia feita: a acusação de oportunismo aos políticos. António Costa recebe bastas vezes a chibatada. Agora vejamos : um político que não domina a arte da oportunidade é um Raul de Tomás, ou seja, gasta muito, promete tudo e nunca está no sítio certo.
Temos na nossas representações psico-linguísticas outros equívocos: fulana é uma manipuladora. Quando em terapia alguém se queixa de ser assim apodada costumo sossegar a irritação. Explico que é um elogio, que saber manipular, portanto, dispor as coisas, templar, escolher o instante, é uma qualidade preciosa. Os tolos fazem ao calhas.

Costa é oportunista e manipulador? Claro, não é tolo. Bertoldos são os que não aprendem a contrariá-lo, os deslumbrados  que não duvidam do futuro.

No comments:

Post a Comment