Sunday, September 8, 2019

Os caminhos do bosque da direita portuguesa

A única coisa em que existe direita em Portugal é nos costumes. Fora deles, não distinguimos um empresário  reformado  de Cabanelas de uma jovem terapeuta reiki eleitora do PS. Nenhum deseja o excruciante modelo bolivariano, nenhum suspira pelo eterno retorno das conversas em família.
A AD de Sá Carneiro explicou-se bem: toda  a acção provoca uma reacção e o país cansou-se do Conselho da Revolução. As  duas maiorias absolutas consecutivas  de Cavaco foram tão de direita como eu sou do misterioso Sporting: jorravam fundos comunitários, por isso ande eu contente, ria-se a gente. O governo de Passos foi o aplicador de um programa de resgate pedido por Sócrates: só com metanfetaminas  interrogamos aqui qualquer maioria , sociológica  ou com creme, de direita.

 Se, como José Gil dizia, Salazar transformou a existência em trauma, o PREC prolongou a catarse. Com a modernização básica  sobrou um funcionalismo público pletórico  e mal pago, mas pago. A economia paralela, que todos conhecemos,  funcionou como o outro pulmão.  A coisa foi andando aos tortolos até novo trauma, o da troika. Agora somos as Bahamas, os turistas asseguram a existência, o saque fiscal  aceita-se  como uma exodontia inevitável, o resto vai esperando novo tufão tropical. Ninguém troca o certo pelo incerto, ou seja pelas reformas  da direita.

Pode haver espaço? Ainda assim pode haver espaço?Talvez, se  a direita compreender o país.  
Os velhos e os pobres das serranias não valem votos, por isso os meninos urbano-liberais nem os conhecem. A avó tinha lá uma casita, um recuerdo de uns maranhos papados à lareira e é um pau.  As novas configurações sindicais são agressivas? Nem pensar em misturarem-se com gente suada e rude. Os médicos e os enfermeiros continuam a emigrar? Não temos tempo para eles. 


Ainda por cima, é nos costumes que a direita continua coesa e sólida como uma rocha à beira mar que todos os anos encolhe. Se os jacobinos  definem o mundo a partir de uma cave na rua de St. Jacobs, os marialvas imaginam-no como uma donzela permanentemente ameçada pelos Sex Pistols nus e drogados. Um urinol tramsgénero incomoda-os muito mais do que a anomia abjecta diante dos maiores ataques à organização familiar: o extermínio sistemático  de mulheres, mães e avós e a total desprotecção  das crianças. Interessa mais a composição do conselho superior  do MP.
A ecologia, uma bandeira natural na representação política conservadora, por motivos evidentes, está guardada na casa do corneteiro, ficando à disposição das festarolas  anti-lítio. A defesa ecológica é muito mais do que salvar os estorninhos: é uma parte  importante de um discurso moderador da voragem consumista e consequente decomposição social.

Não se vislumbram grandes mudanças. A direita está como a nêspera,  do Mário-Henrique Leiria, calada e quieta a ver o que acontece. Virá outro resgate? Talvez, mas depois também vem  a velha e zás, come-a.








1 comment:

  1. Não há quem não molhe o pão na sopa a malhar na direita, diagnósticos para todos os gostos. Já tenho idade suficiente para saber que é assim quando se adivinha uma derrota, "eu bem avisei" "estava-se mesmo a ver".
    Sabes bem que eu estou onde sempre estive, mesmo no que diz respeito aos "costumes". Estou habituado a perder
    Abraço

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