Thursday, September 5, 2019

A crise da direita




Gulbenkian dizia que só tinha três amigos: sono, sol e trabalho. A esquerda portuguesa só precisa  de um: os media. Quase quatro anos de geringonça e o PCP é claro: este governo não é de esquerda. O Bloco  oficioso segue  na peugada: o governo faz a política de Passos Coelho, o oficial remata em com força . Ora, quem está em crise nos editoriais de análise ? A direita...

É evidente que se formos pelas sondagens o mantra é correcto: o CDS continua anão e o PSD para lá caminha. Subsiste  uma nímia dificuldade. O CDS sempre foi irrelevante, e  muito pantomineiro, e este PSD não é de direita nem de esquerda, é um estelífero vazio se exceptuarmos a agenda contra  o MP delineada por  Elina Fraga e Mónica Quintela.
O que  os editorais dos media silenciam é a desesquerdização do governo PS. Sempre que Bloco e PCP põem a cabeça de fora lá vem a crítica de extremismo ou prova de vida.

Esta ideia feita tem outros prolongamentos interessantes. Peguemos na memória de Sá Carneiro À época era um fascista, ápodo utilizado por muitos dos que ainda hoje estão na política. Outros que partiram, como Cunhal,  eram claros em 1994: Todos estes factores abalaram profundamente as esferas do poder, sucedendo-se no campo fascista as divisões e dissidências (Craveiro Lopes, Botelho Moniz, Humberto Delgado, Henrique Galvão, Sá Carneiro e outros). Freitas do Amaral  era o Seitas do Mal no extinto O Diário; já derrotar Cavaco era um imperativo para salvar a democracia.
 Estes prolongamentos servem apenas para apresentar  o pão com manteiga do combate político: tudo o que não seja a  herança (a civilizada) do PREC é fascismo. Assim, a única direita portuguesa, o tenebroso PSD de Passos, é fascista e pronto, não se fala mais disso. Matar a serpente no ovo.

Resulta deste modo que quatro anos de governo PS podem ser travestidos de esquerda, mesmo que, como vimos acima, mais não tenham sido do que o prolongamento da política de Passos. Dirão vocês que se assim fosse o governo não teria o apoio de Bloco, PCP e  da ala esquerda do PS. Depende. Todos sabemos os milagres que  consegue a criação de um papão malvado (e uns pós de liberalidade nos costumes aos quais a direita tradicional rosna surdo) . E não há melhor papão (o verdadeiro)  do que o agitar da perda de direitos  e regalias.

Agora, com um PSD entregue a amadores deslumbrados,  tudo parece correr sobre rodas. Como no tempo do cavaquismo, a força é o hegeliano critério de correcção.


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